Os oitavos de final da atual edição da Champions League iniciaram com um dos mais interessantes desafios, que opôs os galácticos parisienses aos eternos candidatos de Munique. Um duelo de titãs que se previa bem disputado, onde os detalhes estratégicos seriam elementares para a obtenção do objetivo.

Se de um lado os comandados de Galtier se encontravam num momento difícil, após duas derrotas consecutivas, acumulado aos problemas no balneário que se tornaram públicos e com a impaciência dos adeptos face ao comportamento das suas principais estrelas, os bávaros apareciam neste jogo após uma excelente série de 3 vitórias.

Comecemos então pelas estruturas utilizadas pelos técnicos

PSG utilizou 1x4x4x2 com a novidade a partir da meia-direita, através da inclusão do jovem de 16 anos, Emery (o mais novo de sempre a iniciar a titular na fase a eliminar da Champions). Duas linhas de 4 visavam suportar a liberdade de movimentos da dupla Messi-Neymar.

Do lado alemão, vimos uma defesa a 3, um duplo-pivô no setor médio, dois alas e dois médios-ofensivos na ligação ao ponta-de-lança Moting.

Ferido pela ausência no 11 titular da sua principal estrela, Mbappé, os parisienses optaram por jogar com bloco médio-baixo (muitas vezes baixo) uma vez que a sua profundidade viu-se diminuída e o adversário apresenta um coletivo mais organizado que mesmo tendo jogadores de altíssimo nível, é notória uma perspetiva muito mais coletiva, onde cada jogador tem a sua função bem definida.

A equipa de Nagelsmann veio para mandar no jogo e aproveitar o momento menos positivo do adversário, conseguindo instalar-se no meio-campo adversário com relativa facilidade. Isto deveu-se, sobretudo, pela inoperância da dupla atacante do PSG que praticamente nada contribui no momento de organização defensiva.

Usualmente, os campeões alemães iniciam a construção à direita, com Sané e Musiala ocuparem posições interiores, nos “Pocket Spaces”, e Cancelo e Coman a oferecerem total largura. O posicionamento e Sané e Musiala é essencial para causar dúvida entre o setor defensivo e o meio-campo, assim como entre o defesa-central e lateral. Ao ativar o corredor lateral direito, onde Cancelo é conhecido pela sua fortíssima capacidade de cruzamento, a equipa do PSG era forçada a vascular em função da bola, o que permitia atrair na direita, para depois atacar à esquerda, através de um passe longo para Coman, que não poucas vezes recebeu com espaço para desequilibrar. Este passe tanto podia ser executada por Upamecano como por Kimmich, muito capazes na variação rápida do centro de jogo.

Apesar de terem passado a maior parte do tempo no meio-campo ofensivo, a equipado Bayern não conseguiu criar grandes ocasiões, fruto do excelente trabalho de ocupação de espaços, tanto de Danilo como de Verrati, que conseguiram evitar penetrações através do espaço entrelinhas. Além disso, os forasteiros não colocaram linhas nem unidades de finalização suficientes para incomodar o adversário, sendo pouco agressivos a atacar a área.

Outra variante das combinações ofensivas do Bayern passa pela solicitação dos movimentos em apoio do seu ponta-de-lança. Este movimento visar ativar os médio-ofensivos em posição frontal para atacar a zona predominante de finalização. Aqui é de destacar a grande capacidade de leitura de S. Ramos que conseguiu claramente minimizar o impacto destas ações através do seu timing de desarme/contenção.

Tendo estado pouco tempo em organização defensiva, o PSG foi inofensivo no primeiro tempo, não tendo conseguido criar situações de finalização, A única forma que encontrou para sair da enorme pressão (e bem executada) do Bayern, foi utilizar Messi como terceiro médio para depois ligar o jogo, o que quase nunca aconteceu devido à forte reação à perda e coordenação entre setores do adversário.

O jogo de Poker na 2ª parte

Mbappé sai para aquecer e do lado bávaro a resposta foi imediata: entrou Davies saiu Cancelo; do lado parisiense saiu Hakimi e entrou Kimpembe. O canadiano entrou para ocupar a ala esquerda, tendo Coman passado para o lado direito. Viria a provar-se uma cartada de sucesso. Mesmo com o ajuste dos franceses para uma linha defensiva de 5 (com a inclusão de Emery – 1x3x5x2), a equipa visitante continuou a dominar o jogo e agora com mais objetividade, tendo Alphonso Davies uma grande responsabilidade na maior ofensividade da sua equipa. A equipa começou a ser mais agressiva nas ações individuais e no ataque aos cruzamentos, onde Coman se destacou, tanto nas ações em penetração como no ataque às zonas predominantes de finalização.

O ajuste de Emery fez notar a falta de experiência tática do menino, que muitas vezes não ocupou a posição correta, desequilibrando a equipa, obrigando Marquinhos a maior exposição perante Davies. E é num desses momentos que surge o golo, ativação do jogo interior por Moting que joga no apoio frontal de Davies, que com um grande cruzamento encontra Coman ao 2º poste.

Esta toada manteve-se até perto do minuto 65, altura em que a equipa caseira começou a assumir as despesas do jogo, sobretudo pela enorme capacidade de Mbappé em acelerar jogo e dar profundidade à sua equipa. Nuno Mendes foi dos que mais beneficiou desta alteração, tendo mais espaço para criar desequilíbrios, onde se destacou pela sua capacidade de drible em velocidade e capacidade de cruzamento a alimentar os colegas de equipa. Foram 25 minutos de sufoco por parte da equipa do PSG que pecou por tardio, onde Sommer assumiu um papel primordial na manutenção do resultado.

Para a 2ª mão perspetiva-se um jogo muito competitivo entre duas das mais fortes equipas do mundo, sendo que uma se destaca pela sua organização, coordenação e agressividade e a outra pela inspiração dos seus astros.

PSG: Galtier parece estar com dificuldades em gerir os egos, tendo uma equipa partida. Não basta ter jogadores de outro mundo, é necessário incluí-los na sua ideia de jogo e equilibrar a sua inspiração com um coletivo forte. Não ter rematado à baliza durante 45 minutos, a jogar em casa, revela uma equipa partida, que se limita a esperar por momentos de magia.

Apesar disto, é de destacar que a equipa se organizou bem defensivamente, parecendo equilibrada e articulada, não permitindo praticamente nenhuma oportunidade no primeiro tempo. Com Mbappé, tudo fica diferente. Um jogador com qualidades indiscritíveis, que alia as suas aptidões a uma agressividade e motivação para obter resultados. Os últimos 25 minutos foram uma amostra de que a equipa consegue ferir qualquer adversário quando as peças estão interligadas.

Bayern: 65 minutos de altíssimo nível. Mérito do seu técnico que entendeu a conjuntura e aplicou uma estratégica restrita para este duelo muito bem pensada. Ainda assim, deve sair preocupado com os últimos 25 minutos, onde as alterações não surtiram grande efeito. Pelo contrário, a equipa parece ter enfraquecido com as alterações.

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