O Mundial de futebol de sub-20, realizado este ano na Argentina, trouxe à tona alguns dos jovens com maior potencial no panorama global. Num grupo muito interessante (Grupo D), Brasil, Itália e Nigéria iriam lutar bravamente por um lugar nos oitavos-de-final.

A jornada inaugural do torneio trouxe-nos um dos duelos mais apelativos: a Itália de Nunziata frente ao Brasil de Ramon Menezes. Com duas seleções recheadas de talento, esperava-se um encontro de alto nível, e não desiludiu.

Este encontro seria claramente importante para o desenrolar deste grupo e para a seleção de Itália demonstrar a sua força

O 1x4x4x2 (Losango) de Nunziata

A Itália apresentou-se com uma estrutura em 4x4x2 em forma de losango que viria a ser a base do seu modelo para o Campeonato do Mundo. Com bola, a seleção transalpina apresentava uma grande mobilidade, sobretudo entre o setor médio e o setor atacante, aspeto que causava muitas dificuldades nas referências de marcação das defesas oponentes, sendo que a dupla de centrais do Brasil raramente conseguiu controlar estas deambulações.

Assim que recuperava a bola, a equipa procurava rapidamente o passe vertical e a partir daí ligar o jogo em velocidade, conjugando a mobilidade e combinações através de apoio frontal. A sua forma de jogar assenta num jogo apoiado mas sempre em alta rotação, onde procuram constantemente o jogador livre, entrelinhas, de frente para o jogo. Este aspeto feriu com a o espaço entre o meio-campo e a defesa do Brasil.

Primeira fase de construção

3+1 foi a fórmula utilizada para sair na primeira fase. Neste momento, o lateral-direito, Zanotti, juntava-se aos centrais (Ghilardi e Guarino) para sair a 3, enquanto o lateral esquerdo, Turrichia, projetava-se para juntar-se à linha do meio-campo. Faticanti era o  pivô. Prati, na direita, dava largura, e na esquerda o espaço para construir era também procurado por Casadei (o Jokers desta seleção).

Primeira fase de construção da seleção de Itália: 3+1

O objetivo italiano nesta primeira fase era atrair a pressão da linha média para posteriormente explorar o espaço entre esta linha e a defensiva. Esposito, o ponta de lança, ficava responsável por fixar a defesa, enquanto o seu colega de setor (Pafundi) flutuava entre setores, funcionando muitas vezes como o homem livre.

Quando a equipa não consegui sair tão apoiado como pretendia, ligava mais direto em Esposito, que conseguia não raras vezes jogar de frente para os médios.

Primeira fase de construção de Itália sob pressão do Brasil

Ligação Baldanzi-Pafundi

Estes dois pequenos criativos são uma dor de cabeça para qualquer organização defensiva. A forma como permutam de posição, como conseguem receber sob pressão e como conseguem sair do afunilamento sempre com grande critério torna-os uma ameaça furtiva.

Conseguem ligar sempre com qualidade e acelerar quando estão de frente para o jogo, momento-chave dos atasques italianos.

Overload no corredor central para libertar no corredor lateral

A sua disposição em losango, aliado à forma como exploravam os movimentos de Pafundi, são excelentes para criar vantagens numéricas (e posicionais) no corredor central. O Brasil nunca conseguiu lidar com esta situação, tendo sido apanhado várias vezes descoordenado entre setores e também a nível intrassectorial (podemos ver no arrastamento em demasia do central Renan, criando uma distância muito longa para o seu parceiro de setor. Para tirar partido desta vantagem numérica é necessário o passe que penetre linhas e a mobilidade constante dos seus meio-campistas. Depois de entrar em zona de criação de frente para o jogo e em vantagem ou igualdade numérica no corredor central, a ideia era ativar o corredor esquerdo e atacar zonas de finalização, onde Casadei, a grande figura do torneio, era diferenciador.

Gatilhos de pressão

Um dos pontos fortes desta seleção é a forma como pressiona. Para que este momento tenha a eficiência pretendida, existem gatilhos que devem ser respeitados.

O passe para trás é o momento de pressionar a toda a velocidade e intenção, não oferecendo grande tempo para que um adversário tão forte como era o Brasil quando tinha a bola, conseguisse pensar o seu jogo. Esta pressão era ativada pelos dois homens da frente, seguidos pelo setor do meio-campo, sempre coordenados para não oferecerem espaço entrelinhas.

Quando o adversário entra em zona de criação, o portador tem sempre uma marcação individual, sendo que o restante bloco médio-defensivo se posiciona zonalmente para controlar as zonas preponderantes.

Conclusão

No final da primeira parte a Itália vencia por 3 bolas sem resposta, sendo que os golos foram marcados pelo diferenciado Cesare Casadei (2x) e Prati. O Brasil acabaria por reduzir para 3-2 no segundo tempo, fruto das alterações que vieram trazer outra predisposição ofensiva e da grande qualidade dos jogadores à disposição.

A Itália realizou provavelmente a melhor primeira parte da competição e demonstrou ter argumentos para lutar por algo. De salientar que os golos foram obtidos através de lances nos diferentes momentos: bola parada ofensiva, ataque rápido e ataque organizado.

Uma lição de futebol positivo e clínico de Nunziata, que conseguiu superiorizar-se à fortíssima seleção brasileira e ao seu 1x4x2x3x2 e começar a sua caminha no Mundial de forma imperiosa. O Brasil nunca se conseguiu ajustar à mobilidade, capacidade de pressão e para um detalhe muito importante do jogo de do adversário: o primeiro passe após recuperação era quase sempre para a frente, com critério.

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